sábado, 29 de janeiro de 2011

Flores ocultas


encaro a estrada
de frente
mastigo pedras
rumino a faca entre os dentes
fere-me o peso do aço
acumulado
                                                                                                                   obsoleto
das correntes me desfaço
escondo-me nesse oceano deserto
esqueço
                     adormeço
                                              morro

retorno
retrocedo aos laços do retrato
reflexo no espelho que reavivo
recomeço

na manga
uma outra carta

 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Viva às mortas

na impossibilidade de ser
resolveu ficar deprimida
foram três horas no sofá

na impossibilidade de ser outra

resolveu voltar a ser mãe
foi até a cozinha
fez pudim, bolo e torta

as outras; estão mortas


domingo, 23 de janeiro de 2011

Preferências


não quero colher frutos
quero ser
enquanto acordo
caminho
e volto

enquanto teclo e penso
enquanto deito meu corpo
sobre o seu

enquanto vivo
quero ser


De novo janeiro


chove inclinado no vão das telhas
pinga no balde, respinga no chão
as águas de março invade janeiro
invade casas, avenidas...
invade as vidas
transborda
a morte

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Segredo


não consigo atinar
então vivo a imaginar
parece carregar um peso
não há leveza em seu andar
há uma sombra em seu olhar
que do segredo você saia ileso

Triste


meus dias tão iguais
não pode ser
um só triste dia

todos tão tristes
e tão iguais
são os meus dias

que me fazem triste
e nada mais

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Sempre chove

ontem
dia claro
exuberante sol de verão
faltou-me ânimo
não saí

hoje
dia chuvoso
és meu cúmplice
sem culpa
não saio

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Vastidão

hoje
pesa-me
as horas, os minutos
o tempo
dói

a vida
digerida
a passos lentos
minguando
vai 


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Solidão

solidão veste jeans
essa é a sua cor, só que
num desbotamento inverso
carregando ainda mais seu tom
no tamanho certo do meu Universo

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Preciso de um mata-borrão


nunca fiz rascunhos
não passo nada à limpo
minha vida é cheia de erros


Outono

desfolha-se
infinitos perfumes
agasalham o corpo nu
que valsa descalço
no estridente tapete
de folhas